sábado, 29 de junho de 2019



Aluno (a):___________________________________________
Data: __/ __/ ____                



1 -  Por que a Independência do Brasil é um dos fatos mais importantes da história do país?

(A) Porque D. Pedro não voltou para Portugal.
(B) Porque marca o fim do domínio português e a conquista da autonomia política.
(C) Porque D. Pedro foi aclamado o primeiro imperador do país.
(D) Nenhuma das alternativas.

2 – Após a independência, que forma de governo foi adotada no Brasil?

(A) A monarquia.
(B) O anarquismo.
(C) A república.
(D) Nenhuma das alternativas.


3 - O país que primeiro reconheceu a independência do Brasil (07-09-1822) foi:

(A) Inglaterra.
(B) Portugal.
(C) Venezuela.
(D) Estados Unidos.

4 – O período em que D. Pedro I se manteve no poder é conhecido como:

(A) Reinado.
(B) Primeiro Reinado.
(C) Segundo Reinado.
(D) Regência.

5 - Por que pode-se afirmar que não houve mudanças sociais no Brasil após a proclamação da Independência?

(A) Porque a estrutura agrária continuou a mesma.
(B) Porque a escravidão se manteve.
(C) Porque a estrutura agrária continuou a mesma, a escravidão se manteve e a distribuição de renda continuou desigual.
(D) Nenhuma das alternativas.

6 – Como o Brasil contraiu sua primeira dívida externa?

(A) O Brasil pediu cerca de 2 milhões de libras emprestados à Inglaterra para pagar a Portugal como indenização pela independência.
(B) O Brasil pediu cerca de 2 milhões de libras emprestados à Alemanha para pagar a Portugal como indenização pela independência.
(C) O Brasil pediu cerca de 2 milhões de libras emprestados à Espanha para pagar a Portugal como indenização pela independência.
(D) Nenhuma das alternativas.

7 – A Constituição de 1824 (outorgada por D. Pedro I) definiu o voto aberto, somente  para homens livres, maiores de 25 anos e censitário. Isso quer dizer que:
(A) só podia se candidatar a um cargo e votar o homem que soubesse ler e escrever.
(B) só podia se candidatar a um cargo e votar o homem que tivesse maior idade.
(C) só os  pobres  podiam votar, pois o voto não era baseado em renda.
(D) só podia se candidatar a um cargo e votar o homem que tivesse a renda estabelecida pela lei.       

8 – O que foi o período regencial?

(A) Período governado por regentes, durante a menoridade de D. Pedro de Alcântara..
(B) Período governado por senadores, durante a menoridade de D. Pedro de Alcântara. 
(C) Período governado por deputados, durante a menoridade de D. Pedro de Alcântara.
(D) Nenhuma das alternativas. 

9 - Como foi chamado o golpe que modificou a exigência constitucional, antecipando a maioridade de D. Pedro II?


(A) Golpe Constitucional.
(B) Tratado de Tordesilhas.
(C) Golpe da Maioridade.
(D) Golpe Militar.
 
10 – . Constitui base econômica do Segundo Reinado:

(A) a borracha
(B) a indústria
(C) o açúcar
(D) o café

11 – Associe os períodos da História do Brasil Império, listados na Coluna A, às características que os identificam, indicadas na Coluna B.

COLUNA A
1. Primeiro Reinado (1822 a 1831)
2. Período Regencial (1831 a 1840)
3. Segundo Reinado (1840 a 1889)

COLUNA B
(   ) O país foi  governado por regentes, até D. Pedro II atingir a maioridade.
(   ) O Imperador enfrentou muitas dificuldades para governar o Brasil, em parte por causa do seu autoritarismo.
(   ) Foi um período de grandes transformações no país e marcado por importantes conflitos, como a Guerra do Paraguai.

12 -  A Constituição imperial brasileira, promulgada em 1824, estabeleceu linhas básicas da estrutura e do funcionamento do sistema político imperial tais como o(a):

(A) equilíbrio dos poderes com o controle constitucional do Imperador e as ordens sociais privilegiadas.
(B) ampla participação política de todos os cidadãos, com exceção dos escravos.
(C) autonomia das Províncias e, principalmente, dos Municípios, reconhecendo-se a formação regionalizada do país.
(D) predominância do poder do imperador sobre todo o sistema através do Poder Moderador. 

13 - Marque V para as frases verdadeiras e F para  as  falsas.

a) (  ) Dom Pedro I abdicou do trono brasileiro em favor de seu filho Pedro de Alcântara.
b) (  ) Embora fosse maior de idade, o príncipe ficou sob os cuidados de José Bonifácio.
c) (  ) Após a abdicação do imperador, o Brasil passou a ser governado por regentes nomeados pela Assembleia Legislativa.
d) (  ) O período regencial estendeu-se de 1831 a 1840.

14 – Escreva   F para a  afirmação  falsa.

(    ) Constituição é  a  Lei máxima  de  um  país que, estabelece os principais  direitos e  deveres  dos  cidadãos.
(    ) O desenvolvimento da lavoura cafeeira e   a  passagem do trabalho escravo para  o trabalho livre aconteceu no Segundo  Império.
(    ) O Brasil passou por uma grave crise política e diversas revoltas durante o período regencial.
(    ) Proclamação da República colocou fim na monarquia do Brasil.
(    ) O Presidente Luiz Inácio Lula da Silva governou  no  Segundo Império.
(   )  A Constituição de 1824 ficou vigente por 65 anos, até a proclamação da República em 1889.

Gabarito

1 – B
2 – C
3 - D
4 – B
5 – C
6 – A
7 – D
8 – A
9 – C
10 – D
11 - (2)
         (1)
         (3)
12 – D
13 – (V)
         (F)
         (V)
         (V)
14 – (v)
        (v)
        (v)
        (v)
        (F)
        (V)


Lembrando


Independência do Brasil

   
          A Independência do Brasil é um dos fatos históricos mais importantes de nosso país, pois marca o fim do domínio português e a conquista da autonomia política.
Embora pareça um pouco estranho, pode-se afirmar que a independência do Brasil se iniciou com a chegada da Corte Portuguesa, em 1808. Em terras brasileiras, D. João realizou uma série de medidas que, posteriormente, justificariam o desejo da elite brasileira pela independência. A abertura dos portos às nações amigas, a reforma urbanística no Rio de Janeiro, a criação da Academia Militar, do Banco do Brasil e da Imprensa Régia, entre outros fatores deram ares de metrópole ao Brasil e abriram caminho para o processo da independência. E assim, Dom João VI cumpria fielmente os tratados com a Inglaterra, que havia se comprometido de defender Portugal das tropas de Napoleão e proteger a família Real no litoral Brasileiro.
         Mas essas mudanças trouxeram revoltas a elite portuguesa que queria que o Brasil voltasse a ser colônia, dependendo totalmente de Portugal. Em agosto de 1820 ocorreu a Revolução Liberal do Porto.  Essa  reforma daria limite aos poderes do Rei e transformaria novamente o Brasil numa colônia.
Os revolucionários portugueses exigiam a volta do Rei Dom João VI para legitimar as transformações que aconteciam. Com medo de perder sua autoridade de rei, ele nomeou o filho Dom Pedro I como príncipe regente do Brasil. E retornou a Portugal em 1821.
No mesmo ano (1821), quando as Cortes Gerais e Extraordinárias da Nação Portuguesa mostraram a ideia de transformar o Brasil de novo numa colônia, os liberais radicais se uniram ao Partido Brasileiro tentando manter a autoridade do Brasil. As Cortes mandaram uma nova decisão enviada para o príncipe regente D. Pedro. Uma das exigências era seu retorno imediato a Portugal.
        Os liberais radicais, em resposta, organizaram uma movimentação para reunir assinaturas a favor da permanência do príncipe. Assim, pressionariam D. Pedro a ficar, juntando 8 mil assinaturas. Foi então que, contrariando as ordens emanadas por Portugal para seu retorno à Europa, declarou para o público: Se é para o bem de todos e felicidade geral da Nação, estou pronto! Digam ao povo que fico.” 
Após o Dia do Fico, D. Pedro tomou uma série de medidas que desagradaram a metrópole, pois preparavam caminho para a independência do Brasil. Ele  convocou uma Assembleia Constituinte, organizou a Marinha de Guerra e obrigou as tropas de Portugal a voltarem para o reino. Determinou também que nenhuma lei de Portugal seria colocada em vigor sem o "cumpra-se", ou seja, sem a sua aprovação. Além disso, o futuro imperador do Brasil conclamava o povo a lutar pela independência.
O príncipe fez uma rápida viagem a Minas Gerais e a São Paulo para acalmar setores da sociedade, que estavam preocupados com os últimos acontecimentos, pois acreditavam que tudo isto poderia ocasionar uma desestabilização social no país. Durante a viagem, D. Pedro recebeu uma nova carta de Portugal, que anulava a Assembleia Constituinte e exigia a volta imediata dele para a metrópole.
Estas notícias, chegaram as mãos de D. Pedro quando este estava em viagem de Santos para São Paulo. Próximo ao riacho do Ipiranga, levantou a espada e gritou: "Independência ou Morte!". Este fato histórico ocorreu no dia 7 de setembro de 1822 e marcou a Independência do Brasil. No mês de dezembro de 1822, D. Pedro foi declarado imperador do Brasil.
        



O pós Independência

Dom Pedro foi coroado imperador do Brasil quase três meses depois, no dia 1° de dezembro de 1822, com título de  D. Pedro I.
         Os EUA reconheceram a independência do Brasil em 1924, seguindo os preceitos da Doutrina Monroe, “A América para os americanos”. Na Europa, Portugal reconheceu a independência em 1825, mediante duas exigências: o pagamento de uma indenização (o início da história de nossa dívida externa.)  e a garantia de privilégios comerciais. Já a Inglaterra reconheceu em 1826, também com duas exigências: renovação dos tratados de 1810 e a extinção, dentro de 3 anos, do tráfico negreiro. E gradativamente as outras monarquias europeias foram acatando a decisão portuguesa, e reconhecendo o Brasil como um país independente.
Em grande parte do país houve tranquilidade, aceitação e até comemoração em relação à independência brasileira. Porém, em algumas províncias, principalmente do Nordeste, ocorreram manifestações e revoltas, organizadas por portugueses, que não queriam a ruptura com Portugal. Militares brasileiros foram enviados para estas regiões e combateram estes movimentos, que ficaram conhecidos como "As Guerras de Independência do Brasil".
         A estrutura agrária continuou a mesma, a escravidão se manteve e a distribuição de renda continuou desigual. A elite agrária, que deu suporte a D. Pedro I, foi a camada que mais se beneficiou. 
O Brasil manteve o regime monárquico (a única monarquia a se consolidar em nosso continente no pós-independência), não alterava sua economia agroexportadora, continuava privilegiando os latifundiários e mantinha a base da mão de obra na escravidão.
Surgimento do Brasil enquanto nação independente; construção da nacionalidade “brasileira”.



Constituição de 1824

A Constituição Federal de 1824 foi a primeira Constituição do Brasil. Foi a que existiu durante o período da monarquia brasileira recebeu o nome oficial de Constituição Política do Império do Brasil.
Essa Constituição foi feita por uma assembleia constituinte e foi outorgada pelo imperador Dom Pedro I no dia 25 de março de 1824. A outorga da Constituição aconteceu 2 anos depois que o Brasil foi emancipado e deixou de ser uma colônia de Portugal.
A Constituição de 1824 ficou vigente por 65 anos, até a proclamação da República em 1889. Foi a Constituição que ficou mais tempo vigente no país.

Algumas características da constituição de 1824:
·        Nomeava o país como “Império do Brasil”.
·        Carta constitucional outorgada e imposta.
·        Império com monarquia hereditária e constitucional de Estado Centralizado.
·        Igreja Católica ligada ao Estado. Mas era permitido o culto a outras religiões.
·        Dividido em quatro poderes: Executivo, Legislativo, Judiciário e Moderador.
·        Poder Moderador: Colocava Dom Pedro I acima de tudo e de todos. Através deste poder, o imperador poderia controlar e regular os outros poderes. Assim, o imperador tinha o poder absoluto sobre todas as esferas do governo brasileiro.
·        Criação do Conselho de Estado, composto por conselheiros escolhidos pelo imperador.
·        Manutenção da divisão territorial nacional em províncias.
·        O imperador tinha o direito de não responder na justiça por seus atos.
·        Eleição indireta.
·        Voto somente para homem livre, maior de 25 anos e com renda superior a 100 mil réis por ano.
·        Cargo de senador era vitalício e somente para indivíduos com renda superior a 800 mil réis por ano.
·        Composta de 179 artigos e durou 65 anos.


Os quatro poderes
A constituição declarava que o Brasil estava a mando de quatro poderes:
·        Poder Legislativo: Responsáveis pela formação das leis do Império, eram formados por deputados e senadores, que possuíam cargo vitalício;
·        Poder Executivo: Era chefiado pelo próprio imperador D. Pedro I e pelos ministros nomeados por ele;
·        Poder Judiciário: Seu órgão máximo era o Supremo Tribunal de Justiça, e era composto por magistrados indicados pessoalmente pelo imperador, pessoas de sua confiança, formado por juízes de tribunais;
·        Poder Moderador: Era responsável por vigiar as demais instâncias e possuía o poder de anular as decisões de quaisquer um dos outros três poderes, quem ficava responsável por exercer tal função era o próprio D. Pedro I.



Primeiro  Reinado

O Primeiro Reinado foi a fase inicial do período monárquico do Brasil após a independência. Esse período se  iniciou  com a declaração da independência por Dom Pedro I  (1822)  e se findou em 1831, com a abdicação do imperador.
O governo de D. Pedro I enfrentou muitas dificuldades para consolidar a independência, pois no Primeiro Reinado ocorrem muitas revoltas regionais, oposições políticas internas.
Uma das primeiras iniciativas do imperador brasileiro foi criar e promulgar uma nova Constituição para o país, ao mesmo tempo, aumentar e consolidar seu poder político e frear iniciativas revolucionárias que já estavam acontecendo no Brasil.
Esse periodo (1822-1831)  da História do Brasil  foi marcado por sérios conflitos de interesses. De um lado, os que desejavam preservar as estruturas socioeconômicas vigentes. Do outro, D. Pedro I, pretendendo aumentar e reforçar o seu próprio poder, evidenciado na marca característica da  Constituição Outorgada de 1824: o Poder Moderador, exclusivo do imperador.
A política autoritária de D. Pedro I sofreu forte oposição na imprensa e na Câmara dos Deputados. A situação daí resultante, agravada pelos problemas econômicos e financeiros do país, minou a popularidade do imperador. Este, apesar do apoio de alguns setores da sociedade, como o Partido Português, não conseguiu reverter a crise. Assim, na madrugada do dia 7 de abril de 1831, declarou sua abdicação ao trono em favor do filho menor, o príncipe imperial D. Pedro de Alcântara.

A abdicação de Dom Pedro I 
Vários fatores contribuíram para aumentar a impopularidade do Imperador D. Pedro I. Os principais, que provocaram a crise e a consequente abdicação do imperador, foram:
·        Dissolução da Assembleia Constituinte (1823).
·        Outorgação da Constituição de 1824.
·        O Imperador D. Pedro I era autoritário, dando ao seu governo um caráter absolutista.
·        Morte do líder da Confederação do Equador. O carrasco negara-se a enforcar Frei Caneca. O Imperador D. Pedro I, autoritariamente, mandou, então, fuzilá-lo.
·        Gastos desnecessários com os Nacionalistas da Província Cisplatina. Esta região ficou independente e passou a chamar-se República Oriental do Uruguai (1828).
·        Assassinato do jornalista Líbero Badaró, do jornal O Observador Constitucional, que criticava o governo autoritário e intransigente de D. Pedro I (1830).
·         Conflito envolvendo os comerciantes portugueses e os grupos agrários brasileiros. Este episódio ficou conhecido como a "Noite das Garrafadas" (1831).
·        Deposição do Ministério dos Brasileiros, políticos ligados aos grupos agrários e a nomeação do Ministério dos Marqueses, comerciantes portugueses, que apoiavam o imperador D. Pedro I (1831).



Período Regencial

O Período Regencial é uma época da História do Brasil entre os anos de 1831 e 1840. Quando o imperador D. Pedro I abdicou do poder em 1831, seu filho e herdeiro do trono D. Pedro de Alcântara tinha apenas 5 anos de idade. A Constituição brasileira do período determinava, neste caso, que o país deveria ser governado por regentes, até o herdeiro atingir a maioridade (18 anos).
Durante esse período  a vida política do país era dominada por três grupos políticos: os restauradores, que lutavam pela volta de D Pedro I e defendiam o regime absolutista. Os liberais moderados, que defendiam a monarquia, mas sem absolutismo; queria manter a escravidão e a ordem nacional. E finalmente, os liberais exaltados, que lutavam pela descentralização do poder e pela autonomia administrativa das províncias.
A regência que começou sendo composta por três membros chegou ao fim do período sendo composta por apenas um regente. Dessa forma, passou-se da Regência Trina para Regência Una.
A importância desse período da história brasileira se efetivou em decorrência dos esforços realizados pela elite agrária em manter seu poder e garantir a construção do Estado nacional de forma unificada.

Regentes que governaram o Brasil no período: 
- Regência Trina Provisória (1831): regentes Lima e Silva, Senador Vergueiro e Marquês de Caravelas.
- Regência Trina Permanente (1831 a 1835): teve como regentes José da Costa Carvalho, João Bráulio Moniz e Francisco de Lima e Silva.
- Regência Una de Feijó (1835 a 1837): teve como regente Diogo Antônio Feijó.
- Regência Interina de Araújo Lima (1837): teve como regente Pedro de Araújo Lima.
- Regência Una de Araújo Lima (1838 a 1840): teve como regente Pedro de Araújo Lima.


Um período tumultuado

         O Brasil passou por uma grave crise política e diversas revoltas durante o período regencial.

Crise politica
         A crise política deveu-se, principalmente, a disputa pelo controle do governo entre diversos grupos políticos: Restauradores (defendiam a volta de D. Pedro I ao poder); Moderados (voto só para os ricos e continuação da Monarquia) e Exaltados (queriam reformas para melhorar a vida dos mais necessitados e voto para todas as pessoas).

Revoltas
         As revoltas ocorrem basicamente por dois motivos: más condições de vida de grande parte da população (mais pobres) e vontade das elites locais em aumentar seu poder e serem atendidas pelo governo.

Principais revoltas do período: 
·        Cabanagem (1835-40, Grão-Pará) - Conflitos entre adeptos de português e os defensores do governo central. Motivos: Insatisfação em relação à centralização do poder pelo governo regencial. Péssimas condições de vida da população local mais empobrecida. Defendiam a ruptura em relação ao governo central e a instauração da república e do federalismo, com voto universal, com traços que lembrar um sistema democrático. Trata-se efetivamente da primeira revolta popular a alcançar o poder no Brasil. que tenha levado a morte 30% dos habitantes da província.

·        Sabinada (1837-1838, Bahia)  - Expressa o descontentamento em relação ao governo central e a centralização do poder. Inicialmente defendia a separação da Bahia em relação ao governo central, mas posteriormente passaram a defender a separação da província somente até D. Pedro II completar 18 anos e alcançar a maioridade, tornando-se efetivamente o imperador do Brasil. Não havia um projeto específico para a libertação dos escravos, mas os líderes do movimento admitiam a possibilidade de libertar os escravos nascidos no Brasil que pegassem em armas para defender a província. Trata-se do mais importante movimento social em defesa da monarquia durante o período regencial.

·        Balaiada (1838-1841, no Maranhão) –  Inicialmente um movimento de elite, de oposição dos setores liberais em relação aos setores conservadores, o movimento acabou ganhando grande proporção e envolvendo diversos extratos sociais, inclusive com a participação de pobres e escravos. Motivos  Insatisfação com o monopólio dos cargos públicos pelos conservadores que governavam a província. A exploração dos grandes proprietários de terras em relação aos homens pobres do Maranhão. Ainda, revolta em relação ao recrutamento forçado de homens para servir nas tropas oficiais.

·        A revolta do Malês (Salvador, 1835) -  Motivos: Descontentamento com a proibição de suas manifestações religiosas, com a destruição de uma mesquita e a proibição de uma festa islâmica em 1834. Durou  menos de 24 horas, mas é única no sentido de ter sido feita por escravos muçulmanos, chamados de malês. Estes escravos queriam liberdade religiosa e a independência da região da Bahia onde moravam. Eles contavam com o apoio de alguns trabalhadores livres, mas o movimento foi delatado e violentamente reprimido. Ao final, 70 escravos foram mortos 200 presos.

·        A Guerra dos Farrapos (Rio Grande do Sul, 1835-45) – Foi um conflito regional contrário ao governo imperial brasileiro e com caráter republicano. Ocorreu na província de São Pedro do Rio Grande do Sul, entre 20 de setembro de 1835 a 1 de março de 1845.  Teve  fim em 1845, já no reinado de D. Pedro II.   Motivos:   Descontentamento político com o governo imperial brasileiro;  busca por parte dos liberais por maior autonomia para as províncias; revolta com os altos impostos cobrados no comércio de couro e charque, importantes produtos da economia do Rio Grande do Sul naquela época; a entrada (concorrência) do charque e couro de outros países, com preços baratos, que dificultava o comércio destes produtos por parte dos comerciantes sulistas. Os objetivos: elevação do imposto sobre as carnes de charque que vinham de outros países, principalmente de Uruguai;  redução dos impostos das carnes de charque produzidas no Rio Grande do Sul;  mais autonomia para a escolha do presidente da província, um que viesse a atender seus anseios econômicos.

O fim do conflito - Em 1845 os farrapos aceitam a “paz honrosa”, que incluía algumas das suas reivindicações: incorporação dos oficiais farroupilhas ao exército imperial, anistia, liberdade aos escravos que haviam lutado ao lado dos farroupilhas e diminuição dos impostos no Rio Grande do Sul.


O fim do período Regencial no Brasil

A crise política do país, bem como as revoltas que estouraram por toda parte, foi atribuída principalmente à instabilidade que a falta de um governante trouxe para o país. Dessa forma, a maioridade do príncipe D. Pedro de Alcântara foi antecipada, no que ficou conhecido como Golpe da Maioridade, que foi aplicado pelo Senado e com apoio do Partido Liberal. O governo foi então passado para o Imperador, que se tornou D. Pedro II, como tentativa de restauração da ordem e fim das revoltas no país.



Segundo Reinado



O Segundo Reinado é a fase da História do Brasil que corresponde ao governo de D. Pedro II. Teve início em 23 de julho de 1840, com a mudança na Constituição que declarou Pedro de Alcântara maior de idade com 14 anos e, portanto, apto para assumir o governo. Este período terminou em 15 de novembro de 1889, com a Proclamação da República.
         O governo de D. Pedro II, que durou 49 anos, foi marcado por muitas mudanças sociais, política e econômicas no Brasil.

 Política no Segundo Reinado  
A política no Segundo Reinado foi marcada pela disputa entre o Partido Liberal e o Conservador. Estes dois partidos defendiam quase os mesmos interesses, pois eram elitistas. Neste período o imperador escolhia o presidente do Conselho de Ministros entre os integrantes do partido que possuía maioria na Assembleia Geral. Nas eleições eram comuns as fraudes, compras de votos e até atos violentos para garantir a eleição.

 Término da Guerra dos Farrapos  
Quando o imperador  assumiu o império a Revolução Farroupilha estava em pleno desenvolvimento. Havia uma grande possibilidade da região sul conseguir a independência do restante do país. Para evitar o sucesso da revolução, D.Pedro II nomeou o barão de Caxias como chefe do exército. Caxias utilizou a diplomacia para negociar o fim da revolta com os líderes. Em 1845, obteve sucesso através do Tratado de Poncho Verde e conseguiu colocar um fim na Revolução Farroupilha.

Revolução Praieira  
A Revolução Praieira foi uma revolta liberal e federalista que ocorreu na província de Pernambuco, entre os anos de 1848 e 1850. Dentre as várias revoltas ocorridas durante o Brasil Império, esta foi a última. Ganhou o nome de praieira, pois a sede do jornal dirigido pelos liberais revoltosos (chamados de praieiros) situava-se na rua da Praia.

 Guerra do Paraguai
 Conflito armado em que o Paraguai enfrentou a Tríplice Aliança (Brasil, Argentina e Uruguai) com apoio da Inglaterra. Durou entre os anos de 1864 e 1879 e levou o Paraguai a derrota e a ruína. 

 Ciclo do café  
Na segunda metade do século XIX, o café tornou-se o principal produto de exportação brasileiro, sendo também muito consumido no mercado interno.
       Os fazendeiros (barões do café), principalmente paulistas, fizeram fortuna com o comércio do produto. As mansões da Avenida Paulista refletiam bem este sucesso. Boa parte dos lucros do café foi investida na indústria, principalmente nas cidades de São Paulo e Rio de Janeiro, favorecendo o processo de industrialização do Brasil. 

 Imigração 
Muitos imigrantes europeus, principalmente italianos, chegaram para aumentar a mão-de-obra nos cafezais de São Paulo, a partir de 1850. Vieram para, aos poucos, substituírem a mão-de-obra escrava que, devido as pressões da Inglaterra, começava a entrar em crise. Além de buscarem trabalho nos cafezais do interior paulista, também foram para as grandes cidades do Sudeste que começavam a abrir muitas indústrias.

 Questão abolicionista
  - Lei Eusébio de Queiróz (1850): extinguiu oficialmente o tráfico de escravos no Brasil
- Lei do Ventre Livre (1871): tornou livres os filhos de escravos nascidos após a promulgação da lei.
- Lei dos Sexagenários (1885): dava liberdade aos escravos ao completarem 65 anos de idade.
- Lei Áurea (1888): assinada pela Princesa Isabel, aboliu a escravidão no Brasil.
   
Crise do Império
  A crise do Segundo  Reinado teve início já no começo da década de 1880. Esta crise pode ser entendida através de algumas questões:
 - Interferência de D.Pedro II em questões religiosas, gerando um descontentamento nas lideranças da Igreja Católica no país;
 - Críticas e oposição feitas por integrantes do Exército Brasileiro, que mostravam-se descontentes com a corrupção existente na corte. Além disso, os militares estavam insatisfeitos com a proibição, imposta pela Monarquia, pela qual os oficiais do Exército não podiam dar declarações na imprensa sem uma prévia autorização do Ministro da Guerra;
 - A classe média brasileira (funcionário públicos, profissionais liberais, jornalistas, estudantes, artistas, comerciantes) desejava mais liberdade e maior participação nos assuntos políticos do país. Identificada com os ideais republicanos, esta classe social passou a apoiar a implantação da República no país;
 - Falta de apoio dos proprietários rurais, principalmente dos cafeicultores do Oeste Paulista, que desejavam obter maior poder político, já que tinham grande poder econômico. Fazendeiros de regiões mais pobres do país também estavam insatisfeitos, pois a abolição da escravatura, encontraram dificuldades em contratar mão-de-obra remunerada.




Fim da Monarquia e a Proclamação da República

 Em 15 de novembro de 1889, o Marechal Deodoro da Fonseca, com o apoio dos republicanos, destituiu o Conselho de Ministros e seu presidente. No final do dia, Deodoro da Fonseca assinou o manifesto proclamando a República no Brasil e instalando um governo provisório.
 No dia 18 de novembro, D.         Pedro II e a família imperial brasileira viajaram para a Europa. Era o começo da República Brasileira com o Marechal Deodoro da Fonseca assumindo, de forma provisória, o cargo de presidente do Brasil

segunda-feira, 17 de junho de 2019


O livro que só queria ser lido


Era uma vez um livro triste. E não era triste pelo que contava nas suas páginas e ilustrações, mas sim porque tinha um desejo imenso de ser lido e muito poucas pessoas pareciam ter vontade de o ler. Por isso, era um livro triste, e não se envergonhava de o ser, perguntando mesmo com frequência:
— Se um livro existe para ser lido e a mim não me leem, como posso eu andar contente da vida?
Embora tivesse sido publicado há já alguns anos, não podia dizer-se que fosse um livro velho. Os livros mais antigos e raros, agasalhados nas suas belas encadernações de cabedal que os protegiam da humidade e das rugas da idade, estavam bem guardados na biblioteca do dono da casa, herdada de um avô que sempre gostara muito de ler e de viajar e que os comprara nas mais importantes cidades do mundo.
O livro de que este livro fala tivera a sua época, fora lido por várias pessoas da casa e depois esquecido, como acontece, infelizmente, com a maior parte dos livros. Mas há livros que aceitam o esquecimento e outros que não se resignam com ele. Era o caso deste livro, que encontrara o seu pouso certo numa prateleira alta de uma estante colocada ao lado da secretária, onde agora era rei e senhor o computador.
Na prateleira de baixo, o livro tinha como companhia vários dicionários de que gostava muito, pois, enquanto a casa caía num sono profundo, eles ensinavam-lhe palavras em línguas que nunca imaginara poder vir a falar.
Foi assim que aprendeu a dizer «obrigado», «até amanhã», «desculpe» e «posso entrar» em francês, inglês, espanhol e alemão. Não se pode dizer que estas palavras fossem de grande utilidade no seu dia a dia, mas, como o saber nunca ocupa lugar, tinha-as armazenadas na memória, para o caso de um dia vir a precisar delas. Sim, porque nunca se sabe que destino está reservado a um livro.
Quando  via  as  pessoas  da casa  aproximarem-se  da estante,  o livro tinha sempre a esperança de que viessem buscá-lo para voltarem a lê-lo, ou mesmo para o emprestarem a um vizinho ou a um amigo, porque estava ainda em muito bom estado e tinha bastante para contar. Acontece que nunca era por causa dele que vinham, mas antes por causa dos dicionários que usavam nas traduções ou nos trabalhos da escola.
Sentiu-se ainda mais só, triste e esquecido o pobre livro, quando tiraram os romances policiais que costumavam estar alinhados a seu lado e colocaram no lugar deles vários dossiês com contas do telefone e da eletricidade e com impressos da Repartição de Finanças. Com esse tipo de papelada não tinha o livro mesmo nada a ver, sentindo que essa vizinhança era a pior coisa que lhe poderia ter acontecido.
A única companhia com que o livro podia contar era a de uma velha máquina de escrever que já tivera, naquela casa, a sua época e a sua utilidade. Isso acontecera no tempo em que ainda não existiam computadores e em que a escrita de documentos importantes ou de trabalhos escolares de maior fôlego passava quase sempre pelo teclado resistente da velha máquina.
O livro descobriu que ela chegara àquela casa vinda das mãos de um jornalista que era amigo da família e lá vivera durante uns meses. Depois, partiu para o estrangeiro e nunca mais se preocupou com a máquina de teclado AZERT, que muitas vezes foi útil, passando de mão em mão sempre que alguém precisava de escrever um texto que tivesse de ficar asseado e legível.
Os anos  foram  passando e acabou por chegar a era  dos computadores, o que deixou a máquina naturalmente receosa quanto ao seu futuro, apesar de haver sempre quem dissesse: “Eu nunca deixarei de usar a máquina de escrever, porque gosto do ruído que ela faz e da forma como vai construindo o texto no papel.” Pura conversa.
A verdade é que as pessoas se foram habituando, com maior ou menor curiosidade e interesse, ao uso do computador, até que este se tornou praticamente insubstituível.
Durante algum tempo, a máquina depositou grandes esperanças no afeto que lhe dedicava Mariana, filha dos donos da casa, que, além de ser uma grande leitora, alimentava o sonho e o desejo de vir um dia a ser escritora. Os primeiros contos que passou ao papel foram escritos naquele teclado rijo e fiável que nunca deixava mal quem dele decidia servir-se. Estabeleceu-se entre ambos uma relação de mútua confiança, ao ponto de Mariana ter transformado a máquina na confidente sempre disponível das suas queixas, desabafos e desaires amorosos.
Porém, Mariana tornou-se adulta, foi estudar para a universidade e acabou por se render às naturais vantagens do computador, contribuindo, por certo sem o desejar, para o esquecimento e abandono da velha máquina, que acabou por ser arrumada na estante, perto do livro, longe dos interesses e dos olhares das pessoas da casa. E foi particularmente triste para a máquina o dia em que viu Mariana sentar-se numa secretária, perto dela, e começar a escrever um longo texto à mão, acabando por passá-lo depois no computador sem sequer se ter lembrado da solidão poeirenta da sua velha amiga. Com a voz sumida que costumam  ter os objetos  definitivamente fora de uso, a máquina ainda tentou falar com Mariana, dizendo-lhe:
— Se quiseres, eu estou aqui à tua disposição, como sempre estive. Sabes que não sou um objeto moderno, mas não costumo deixar mal quem confia em mim. E já agora quero que saibas que tenho tido muitas saudades tuas e das confidências que partilhavas comigo.
A verdade é que estas palavras não devem ter chegado ao destino, porque Mariana nem sequer levantou os olhos do papel, concentrada como estava na escrita daquele longo texto. Isso não queria dizer que tivesse deixado de gostar da velha máquina, só que tinha passado a ter outras preocupações e urgências, o que é natural quando a vida das pessoas se transforma e quando aumentam as suas responsabilidades.
Foi essa solidão que aproximou o livro da velha máquina de escrever, permitindo que, nas noites frias de inverno, fizessem companhia um ao outro. Nessas noites quase perdiam a noção do tempo, contando histórias que já ninguém parecia querer recordar, no meio da pressa que se foi apoderando da casa, à medida que as pessoas se tornavam adultas e começavam a trabalhar em empregos que as cansavam e deixavam quase sem tempo para ler e para escrever.
— Nós, afinal — desabafou um dia a máquina com o seu amigo livro — somos como as pessoas. Temos os anos de infância e de juventude. Depois, vem a idade adulta e, a seguir, o envelhecimento. E, porque envelhecemos, acabamos um dia por ser esquecidos. É essa a nossa triste sina. E como havemos de escapar-lhe?
O livro, recusando a resignação destas palavras, contrapôs este argumento:
— Pois fica sabendo, minha cara amiga, que eu acho que só em parte tens razão, porque há coisas que se podem esquecer e abandonar e outras que não.
E deu exemplos.
— As pessoas — recordou — têm todo o direito de deitar fora um fogão velho ou um esquentador já sem uso, mas não é justo que abandonem objetos como nós, porque temos uma vida própria e porque partilhámos emoções e segredos. Isso faz com que sejamos diferentes de um fogão ou de um esquentador.
A máquina, embora concordando com os sentimentos do livro, discordou da forma pouco simpática como ele se referiu aos outros objetos:
— Então tu achas que um fogão que ajudou as pessoas a comerem os alimentos em condições e um esquentador que tão importante terá sido para a sua higiene não têm direito a fazer as mesmas exigências que nós fazemos?
O livro, porém, manteve-se na sua, considerando que, fossem quais fossem os argumentos, um livro com alguns anos de vida e de uso e uma máquina de escrever com muitas histórias para contar não podiam ser comparados a vulgares objetos da vida doméstica.
Acontece também que a máquina, pertença de um escritor conhecido antes  de ir parar às  mãos do jornalista que depois a  deixou de vez naquela casa, era possuidora de uma cultura invulgar e nunca se fez rogada quando se tratava de a partilhar com o seu companheiro de solidão, numa prateleira da estante.
Foi assim que o livro ficou a saber que muitos escritores trabalham longamente os seus textos à mão, antes de lhes darem a forma definitiva num teclado de máquina de escrever ou de computador. Desse modo, conseguem escolher as palavras certas, sejam elas verbos ou adjetivos, tornando-se só aparente a sensação de facilidade que às vezes nos transmitem quando lemos os seus textos.
Foi também a máquina que lhe contou que livros tornados célebres como obras para serem lidas por crianças começaram por ser escritos para adultos. E deu como exemplos As Viagens de Gulliver, de Jonathan Swift, A Ilha do Tesouro, de Stevenson, ou mesmo D. Quixote de La Mancha, de Miguel de Cervantes. O livro, embora sendo livro, desconhecia estes factos, pois não era por aí além a sua cultura literária.
Deste modo, foi-se fortalecendo a relação de amizade que os unia, e o livro sentiu mesmo uma grande vontade de tornar-se leitor e de ler alguns clássicos que viviam adormecidos noutras prateleiras da estante. Acrescente-se que não foi fácil satisfazer esse desejo, pois raramente um livro se torna leitor de outros livros, até por ser complicada essa transformação física.
Conhecedora desse desejo, a máquina confiou ao livro este desabafo:
— Era  bom que os escritores tivessem um desejo semelhante ao que tu agora sentes, meu amigo.
— Referes-te a quê, concretamente? — quis saber o livro.
— Quero eu dizer que se os escritores lessem mais os livros de outros escritores, modernos ou antigos, pela certa escreveriam cada vez melhor e não perderiam tempo com pequenas invejas e a dizer mal de pessoas do mesmo ofício, o que, infelizmente, ainda acontece bastante.
— E achas mesmo que isso acontece? — perguntou o livro.
— Se eu um dia te contasse tudo aquilo que aprendi enquanto fui máquina de escrever de escritor e de jornalista, podes crer que passaríamos muitas noites inteirinhas a conversar — respondeu a máquina, levando o amigo a fazer-lhe uma sugestão:
— Pois fica sabendo que eu acho que devias escrever um livro de memórias, já que as memórias podem ser livros capazes de atrair muito leitores, mesmo que não digam toda a verdade que têm para dizer.
A máquina de escrever ouviu com agrado a sugestão, mas, ciente da dificuldade que tinha em pô-la em prática, comentou:
— Olha que não foi nada em que eu não tivesse pensado, mas tenho um problema.
— …que é?
— Quem poderá escrever essas memórias. Sim, porque uma máquina de escrever só consegue passar ao papel aquilo que os outros escrevem nela. Por mais que queira e que tente, uma máquina de escrever, mesmo que seja de muita qualidade, nunca se transforma em escritora.
O livro refletiu sobre as palavras da amiga e acabou por lhe dar razão. Ele, no fundo, também sabia que um livro, por mais ideias que tenha, nunca consegue escrever-se a si próprio, necessitando da imaginação e do trabalho criador de quem passa ao papel aquilo que depois se transforma em livro.
Se não fossem a proximidade e a amizade que entretanto nasceram, o livro dificilmente teria suportado o abandono a que o votaram, numa casa em que começou por ser tão lido e estimado e depois esquecido e abandonado, na prateleira poeirenta das coisas votadas ao esquecimento.
Mas houve um dia em que o mundo quase desabou à sua volta. Imóvel no seu lugar na estante, o livro viu o irmão mais velho de Mariana aproximar-se da máquina de escrever, na companhia de um amigo, e tomar-lhe o peso, observar o seu estado geral e sacudir a poeira nela acumulada. O que podiam significar aqueles gestos? De onde surgira um tão súbito interesse por uma máquina já esquecida e tornada inútil?
— Talvez queiram que tu voltes a ter utilidade e a ser usada por alguém que goste de escrever num teclado como o teu — admitiu o livro, com um sorriso otimista na capa já um pouco desbotada.
A máquina, porém, permaneceu em silêncio, não disfarçando a tristeza que as suspeitas que tinha nela despertavam.
— Pois fica sabendo — disse a máquina — que eu acho que não vai ser nada bom aquilo que está para me acontecer.
— Quais são os teus receios? — perguntou o livro, preocupado com as apreensões da amiga.
— Se queres que eu te diga a verdade, então digo-te que aquilo que me vai acontecer é ser vendida a algum negociante de antiguidades, porque objetos como eu começaram a ser bastante procurados por colecionadores, por terem deixado de pertencer ao presente e fazerem apenas parte da memória do passado.
O livro recusou-se a acreditar no que estava a ouvir, tanto mais que não queria aceitar a possibilidade de ficar privado da companhia da máquina de escrever. No entanto, os piores receios acabaram mesmo por se confirmar. A pessoa que acompanhava o irmão de Mariana não era um amigo mas sim um antiquário que tinha respondido a um anúncio de jornal onde se lia: “Vende-se por bom preço máquina de escrever antiga e rara que pertenceu a um escritor famoso.”
A máquina de escrever tinha os dias contados. O interesse do antiquário era evidente e faltava apenas acertar o preço. O irmão de Mariana não tinha intenção de manter em casa aquele objeto já sem utilidade prática e tratou de encontrar para ele um novo horizonte, ou seja, o de ir parar à montra de uma loja de antiguidades, para depois terminar os seus dias nas mãos de um colecionador ou na vitrina de um museu de província.
A máquina, já resignada com o seu novo destino, disse ao livro que  não  aceitava  despedidas, pois  tinha o coração  fraco e a  lágrima fácil… sim, porque mesmo uma velha máquina de escrever é capaz de chorar quando a tristeza a assalta.
O livro passou algumas noites sem pregar olho e, no dia da despedida, viu na prateleira, perto do lugar que ali ocupava, duas teclas maiúsculas da máquina de escrever, um A e um S. Andou a pensar nas palavras a que aquelas letras correspondiam e, depois de muito puxar pela cabeça, acabou por descobrir: o A era de Adeus e o S de Saudade.
Depois da partida da máquina de escrever, a solidão e o esquecimento começaram de novo a deixá-lo nervoso e irrequieto, tendo mesmo caído da prateleira duas vezes, sem que ninguém tivesse percebido lá muito bem como isso fora possível. A tia Rosário, que tinha o sono muito leve e acreditava em fantasmas, saltou da cama ao ouvir o estrondo da queda e veio para o corredor a gritar:
— É de certeza a alma penada do sr. Esteves do andar de cima que anda a rondar-nos os quartos!
Ninguém deu importância às suas palavras e aos seus medos, até porque se sabia que o sr. Esteves fora um namorado que ela tivera na juventude e que depois casara com a filha do dono da mercearia, nada fazendo crer que agora quisesse voltar para assombrar a casa dos vizinhos.
Noutra ocasião em que o livro se estatelou no chão, ruidosamente, para chamar a atenção das pessoas da casa, houve quem pensasse que tinha havido um pequeno tremor de terra, pois de outro modo não se podia explicar  que um livro caísse sem mais nem quê  de uma prateleira sólida e antiga.
Na verdade, tudo isto acontecia porque ele queria que não se esquecessem dele e do muito que tinha ainda para contar.
Uma noite, o computador ouviu fungar e deu-se conta de que o livro estava a chorar.
— Por que te deu agora para chorar? — perguntou o computador.
— Porque me sinto muito só e triste e porque não consigo dormir — respondeu o livro, tentando disfarçar as lágrimas que lhe escorriam pela capa colorida.
— Se fores paciente — disse-lhe o computador — pode ser que aconteça alguma coisa que te faça ser outra vez desejado e procurado pelas pessoas da casa. Não percas a esperança, porque isso pode acontecer a qualquer momento.
O livro percebeu que o computador estava apenas a tentar ser amável, procurando tornar suportável a tristeza que aumentava de dia para dia, de noite para noite. Por isso, não lhe confessou a inveja que sentia dele e da sua imensa popularidade, sempre com alguém à frente a escrever ou a navegar na internet. Era isso que ele desejava que lhe acontecesse, mas não havia meio de ser bafejado por essa sorte. Também se sentiu tentado a falar-lhe das saudades que sentia da velha máquina de escrever, mas não o fez, temendo ser deselegante. Era certo que essas saudades não lhe davam sossego, mas esse era um problema apenas seu, uma coisa íntima e secreta que não devia partilhar, nem mesmo com um jovem computador que tanto se esforçava por ser amável com ele naquelas horas difíceis de esquecimento e abandono.
Um dia, um grande silêncio invadiu a casa, como se tivessem todos partido para férias. Mas não, a verdade é que ninguém partira. Estavam todos em casa, mas calados de tristeza, pois morrera no Brasil o tio Vicente, que lá tinha os seus negócios e lá refizera a sua vida. Todos gostavam muito desse tio, porque ele era divertido, porque sabia dezenas de histórias assombrosas, algumas delas por ele próprio vividas, e porque nunca se esquecia de mandar presentes nos dias de aniversário das pessoas da casa.
Como morreu de repente, ninguém teve tempo para se preparar para o seu desaparecimento. Por isso, a notícia caiu como um aguaceiro gelado sobre todos aqueles que gostavam dele e que ficaram sem saber o que haviam de dizer uns aos outros, como é costume acontecer em ocasiões como esta.
O livro apercebeu-se do grande pesar que havia na casa, mas nada podia fazer para o contrariar, muito menos voltar a cair da prateleira, o que, pela certa, ainda iria aumentar a confusão reinante.
Foi nessa ocasião que o livro se lembrou de ter entrado na casa pela mão do tio Vicente. Fora ele quem o comprara, o lera e depois dera às irmãs e aos sobrinhos para o lerem também. Esses foram os tempos mais felizes da vida do livro, que se recordava perfeitamente do toque suave das mãos que o folheavam, das exclamações e suspiros que sublinhavam algumas das suas passagens e do perfume das roupas de alguns dos seus  leitores. Agora  que o tio  Vicente partira de vez,  o livro lembrava-se de tudo isso com grande exatidão. Era como se tivesse passado alegremente de mão em mão apenas uns dias antes.
E recordou-se também de ter um dia regressado às mãos do tio Vicente, que o voltou a ler e chegou mesmo a metê-lo numa mala, acabando por deixá-lo para trás por causa do excesso de bagagem. Acreditava, se calhar, que iria encontrar outro igual numa livraria brasileira, ou que um dia voltaria, com tempo e paciência, para o ler de novo. Porém, nada disso aconteceu e, agora que a sua perda era sentida por todos, essa memória tornava-se subitamente nítida e forte.
Uma noite, chegou um telefonema do Brasil, dizendo que o tio deixara coisas valiosas para a família num pequeno cofre guardado no sótão da casa. Mas havia um problema: o segredo que permitia abri-lo estava bem guardado dentro de um livro de que o tio Vicente gostava muito, mas que não se sabia ao certo qual era.
Sem segredo não havia cofre aberto, e sem cofre aberto não havia acesso à herança do tio. Assim começou a busca, livro a livro, sala a sala, prateleira a prateleira. Mas ninguém se lembrava de procurar um pouco acima da prateleira dos dicionários. Puxando pela memória, o livro recordou-se de um pequeno papel manuscrito que o tio Vicente guardara nas últimas páginas, como se quisesse assinalar com ele algum capítulo ou uma frase inesquecível. Só podia ser esse o papel que toda a família agora procurava sem descanso. Mas como havia ele de dizer que era agora o guardião do segredo? Um livro pode ter muitas capacidades e poderes, exceto o de começar a falar como um papagaio ou um rádio ligado na hora certa do noticiário.
Foi então que se lembrou de voltar a cair da prateleira, como se a terra tivesse tremido subitamente. Estatelado no chão, abriu as páginas e deixou que se soltasse uma pequena folha de papel quadriculado que tinha algumas letras e números inscritos.
Ainda passaram quase duas horas até que alguém tropeçasse nele e pusesse os olhos no papelinho mágico. Mas, quando tal aconteceu, foi como se um sol de Agosto tivesse iluminado a casa inteira. Bastou alguém exclamar:
— Encontrei o livro e o segredo do cofre!
É difícil descrever a alegria e o nervosismo que inundaram a casa quando se descobriu que, dentro do cofre, havia moedas e selos muito valiosos, e ainda jóias de ouro e pedras preciosas que tinham pertencido à avó do tio Vicente e que ele, a seu pedido, nunca quisera vender nem guardar num banco, por fazerem parte do coração da casa e da sua riqueza mais secreta. Chegaria o dia em que a descoberta seria feita, e esse dia estava agora a ser vivido por todos triunfalmente, sobretudo porque as finanças da família já tinham vivido muito melhores dias.
Só ao fim de uma semana, passadas já as horas de euforia, alguém se lembrou de comentar:
— Se não fosse a queda do livro da prateleira, ninguém teria descoberto o segredo do cofre. Portanto, só temos de estar agradecidos ao livro que veio resolver tantos problemas.
Foi então que várias pessoas da família, passando-o de mão em mão, se recordaram de o ter lido e dos momentos de satisfação que ele lhes havia proporcionado com a leitura.
Houve mesmo alguém que lhe afagou ternamente a capa, como se acariciasse um animal de companhia. E o livro, apelando às suas forças mais profundas e secretas, murmurou numa vozinha quase inaudível:
— A única coisa que eu quero é ser lido. Se me lerem, dar-me-ão toda a felicidade do mundo.
E se houvesse na casa uma tabela dos mais procurados, como há nas livrarias, o livro teria ficado várias semanas seguidas no primeiro lugar, sem rival à vista. E bem merecia esse momento de reconhecimento e consagração.

José Jorge Letria.. O livro que só queria ser lido.  Lisboa, Texto Editores, 2006.




1- Qual é a autoria do texto? Em qual livro está publicado?
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2 - Qual o tema principal deste texto?
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3 - Que outro título você daria, considerando a relação com o texto?
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4 – Qual era  o sonho do personagem principal?
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5 – O livro teve o sonho realizado?
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6 - Qual a importância do livro na vida das pessoas?
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7 -  Você tem desejo de ler outro livro deste autor?
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8 – Para quem você recomendaria a leitura desse livro?
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9 – Você gosta de ler? Justifique.
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10 -   Que livro você gostaria de ler agora? Por quê? Qual autor?
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11 - Quais os assuntos que você mais gosta de ler?
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12 – Escreva sobre “O livro que só queria ser lido”, de forma que desperte em outras pessoas o desejo de lê-lo.



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Sondagem

1 - Responda quanto a sua frequência de leitura dos seguintes documentos:

Revistas
(  ) diariamente      (   ) semanalmente     (   ) mensalmente
(   ) anualmente   (   ) nunca ou raramente

Jornais
(   ) diariamente    (   ) semanalmente    (   ) mensalmente
(   ) anualmente      (   )  nunca ou raramente

Livros  didáticos
(   ) diariamente    (   ) semanalmente     (   ) mensalmente
(   ) anualmente      (   ) nunca ou raramente

 Livros em geral
(   ) diariamente     (   ) semanalmente     (   ) mensalmente
(   ) anualmente       (   ) nunca ou raramente

2 - Quais os assuntos que você mais gosta de ler?
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3 - Qual o tipo de suporte que você utiliza com mais frequência?

(    ) impresso                       (    ) digital

4 -  Justifique porquê você escolheu a opção acima.
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5 - Você considera que o seu tempo dedicado à leitura é:

(   ) suficiente                               (   ) insuficiente

6 - Quais são as maiores barreiras para sua frequência na leitura?

(   ) tempo                   (   ) condições financeiras
(   ) dificuldade de acesso à biblioteca      (   ) lentidão na leitura
(   ) outro: ___________

7 - Você gosta de ler?

(   ) sim                                   (   ) não

8 - Livros em casa:

(a) tem   _____
(b) não tem _____
(c) número aproximado de volumes   ____________

9 -  Revistas em casa:

(a) tem ____
(b) não tem ____
(c) número aproximado de títulos __________

10 -  Jornais em casa:

(a) tem  _____
(b) não tem  ____
(c) É assinante de jornal? ____ Sim        ____ Não


11 - internet em casa:

(a) tem____         (b) não tem____


12 - Você gosta de ler?  

 Sim___ ,     Não ____,       Às vezes____

13 -  Você entende o que lê?

 Sim ____,   Não ____,    Às vezes____

14 -  Ao ler um livro, uma revista ou um texto, você costuma:

(    ) ficar no inicio
(    ) parar na metade
(    ) ir até o final
(    ) só olhar a capa e as figuras

15 - Que livro você mais gostou de ter lido até hoje? Por quê?

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16 - Que revista você mais gosta de ler?
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17- Escreva três assuntos ou temas sobre os quais você mais prefere ler:
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18 - Se você escrevesse um livro, que tema escolheria?
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19 - Você procura um livro para ler:

(    ) por iniciativa própria
(    )  por indicação do professor
(    )  por indicação de um amigo
(    )  pelo titulo ou nome do livro
(    ) pela capa e figuras
(    ) quando ganha de presente
(    ) quando o vê na biblioteca
(    ) outro jeito: _________________________________________

Observação: Pode ser mais de uma alternativa na questão 19.

20 -  Nas suas horas de folga o que você mais faz é:

(    )  brincar         (    ) assistir TV          (    ) ler         (    ) trabalhar
(    ) praticar esporte          (    ) descansar    (    ) outra coisa: _________________________

21 -  Você considera que o seu tempo dedicado a leitura é:

(    ) suficiente                            (    ) insuficiente

22 - O que mais dificulta seu hábito de ler?

(a) tempo            (b)  lentidão na leitura
(c) dificuldade de uso da biblioteca           (d)  outros: _____________

23 - Você acha que ler é importante? Por quê?
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24 - Qual é a importância da literatura em sua vida pessoal?
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25 - Quais são sues autores preferidos?
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26 – Que conselho você daria para quem não gosta de ker?
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