O livro que só queria
ser lido
Era uma vez
um livro triste. E não era triste pelo que contava nas suas páginas e
ilustrações, mas sim porque tinha um desejo imenso de ser lido e muito poucas
pessoas pareciam ter vontade de o ler. Por isso, era um livro triste, e não se
envergonhava de o ser, perguntando mesmo com frequência:
— Se um
livro existe para ser lido e a mim não me leem, como posso eu andar contente da
vida?
Embora
tivesse sido publicado há já alguns anos, não podia dizer-se que fosse um livro
velho. Os livros mais antigos e raros, agasalhados nas suas belas encadernações
de cabedal que os protegiam da humidade e das rugas da idade, estavam bem
guardados na biblioteca do dono da casa, herdada de um avô que sempre gostara
muito de ler e de viajar e que os comprara nas mais importantes cidades do
mundo.
O livro de
que este livro fala tivera a sua época, fora lido por várias pessoas da casa e
depois esquecido, como acontece, infelizmente, com a maior parte dos livros.
Mas há livros que aceitam o esquecimento e outros que não se resignam com ele.
Era o caso deste livro, que encontrara o seu pouso certo numa prateleira alta
de uma estante colocada ao lado da secretária, onde agora era rei e senhor o
computador.
Na
prateleira de baixo, o livro tinha como companhia vários dicionários de que
gostava muito, pois, enquanto a casa caía num sono profundo, eles ensinavam-lhe
palavras em línguas que nunca imaginara poder vir a falar.
Foi assim
que aprendeu a dizer «obrigado», «até amanhã», «desculpe» e «posso entrar» em
francês, inglês, espanhol e alemão. Não se pode dizer que estas palavras fossem
de grande utilidade no seu dia a dia, mas, como o saber nunca ocupa lugar,
tinha-as armazenadas na memória, para o caso de um dia vir a precisar delas.
Sim, porque nunca se sabe que destino está reservado a um livro.
Quando
via as pessoas da casa aproximarem-se da
estante, o livro tinha sempre a esperança de que viessem buscá-lo
para voltarem a lê-lo, ou mesmo para o emprestarem a um vizinho ou a um amigo,
porque estava ainda em muito bom estado e tinha bastante para contar. Acontece
que nunca era por causa dele que vinham, mas antes por causa dos dicionários
que usavam nas traduções ou nos trabalhos da escola.
Sentiu-se
ainda mais só, triste e esquecido o pobre livro, quando tiraram os romances
policiais que costumavam estar alinhados a seu lado e colocaram no lugar deles
vários dossiês com contas do telefone e da eletricidade e com impressos da
Repartição de Finanças. Com esse tipo de papelada não tinha o livro mesmo nada
a ver, sentindo que essa vizinhança era a pior coisa que lhe poderia ter
acontecido.
A única
companhia com que o livro podia contar era a de uma velha máquina de escrever
que já tivera, naquela casa, a sua época e a sua utilidade. Isso acontecera no
tempo em que ainda não existiam computadores e em que a escrita de documentos
importantes ou de trabalhos escolares de maior fôlego passava quase sempre pelo
teclado resistente da velha máquina.
O livro
descobriu que ela chegara àquela casa vinda das mãos de um jornalista que era
amigo da família e lá vivera durante uns meses. Depois, partiu para o
estrangeiro e nunca mais se preocupou com a máquina de teclado AZERT, que
muitas vezes foi útil, passando de mão em mão sempre que alguém precisava de escrever
um texto que tivesse de ficar asseado e legível.
Os anos
foram passando e acabou por chegar a era dos computadores, o
que deixou a máquina naturalmente receosa quanto ao seu futuro, apesar de haver
sempre quem dissesse: “Eu nunca deixarei de usar a máquina de escrever, porque
gosto do ruído que ela faz e da forma como vai construindo o texto no papel.”
Pura conversa.
A verdade é
que as pessoas se foram habituando, com maior ou menor curiosidade e interesse,
ao uso do computador, até que este se tornou praticamente insubstituível.
Durante
algum tempo, a máquina depositou grandes esperanças no afeto que lhe dedicava
Mariana, filha dos donos da casa, que, além de ser uma grande leitora,
alimentava o sonho e o desejo de vir um dia a ser escritora. Os primeiros
contos que passou ao papel foram escritos naquele teclado rijo e fiável que
nunca deixava mal quem dele decidia servir-se. Estabeleceu-se entre ambos uma
relação de mútua confiança, ao ponto de Mariana ter transformado a máquina na
confidente sempre disponível das suas queixas, desabafos e desaires amorosos.
Porém,
Mariana tornou-se adulta, foi estudar para a universidade e acabou por se
render às naturais vantagens do computador, contribuindo, por certo sem o
desejar, para o esquecimento e abandono da velha máquina, que acabou por ser
arrumada na estante, perto do livro, longe dos interesses e dos olhares das
pessoas da casa. E foi particularmente triste para a máquina o dia em que viu
Mariana sentar-se numa secretária, perto dela, e começar a escrever um longo
texto à mão, acabando por passá-lo depois no computador sem sequer se ter
lembrado da solidão poeirenta da sua velha amiga. Com a voz sumida que costumam
ter os objetos definitivamente fora de uso, a máquina ainda
tentou falar com Mariana, dizendo-lhe:
— Se
quiseres, eu estou aqui à tua disposição, como sempre estive. Sabes que não sou
um objeto moderno, mas não costumo deixar mal quem confia em mim. E já agora
quero que saibas que tenho tido muitas saudades tuas e das confidências que
partilhavas comigo.
A verdade é
que estas palavras não devem ter chegado ao destino, porque Mariana nem sequer
levantou os olhos do papel, concentrada como estava na escrita daquele longo
texto. Isso não queria dizer que tivesse deixado de gostar da velha máquina, só
que tinha passado a ter outras preocupações e urgências, o que é natural quando
a vida das pessoas se transforma e quando aumentam as suas responsabilidades.
Foi essa
solidão que aproximou o livro da velha máquina de escrever, permitindo que, nas
noites frias de inverno, fizessem companhia um ao outro. Nessas noites quase
perdiam a noção do tempo, contando histórias que já ninguém parecia querer
recordar, no meio da pressa que se foi apoderando da casa, à medida que as
pessoas se tornavam adultas e começavam a trabalhar em empregos que as cansavam
e deixavam quase sem tempo para ler e para escrever.
— Nós,
afinal — desabafou um dia a máquina com o seu amigo livro — somos como as
pessoas. Temos os anos de infância e de juventude. Depois, vem a idade adulta
e, a seguir, o envelhecimento. E, porque envelhecemos, acabamos um dia por ser
esquecidos. É essa a nossa triste sina. E como havemos de escapar-lhe?
O livro,
recusando a resignação destas palavras, contrapôs este argumento:
— Pois fica
sabendo, minha cara amiga, que eu acho que só em parte tens razão, porque há
coisas que se podem esquecer e abandonar e outras que não.
E deu
exemplos.
— As pessoas
— recordou — têm todo o direito de deitar fora um fogão velho ou um esquentador
já sem uso, mas não é justo que abandonem objetos como nós, porque temos uma
vida própria e porque partilhámos emoções e segredos. Isso faz com que sejamos
diferentes de um fogão ou de um esquentador.
A máquina,
embora concordando com os sentimentos do livro, discordou da forma pouco
simpática como ele se referiu aos outros objetos:
— Então tu
achas que um fogão que ajudou as pessoas a comerem os alimentos em condições e
um esquentador que tão importante terá sido para a sua higiene não têm direito
a fazer as mesmas exigências que nós fazemos?
O livro,
porém, manteve-se na sua, considerando que, fossem quais fossem os argumentos,
um livro com alguns anos de vida e de uso e uma máquina de escrever com muitas
histórias para contar não podiam ser comparados a vulgares objetos da vida
doméstica.
Acontece
também que a máquina, pertença de um escritor conhecido antes de ir parar
às mãos do jornalista que depois a deixou de vez naquela casa,
era possuidora de uma cultura invulgar e nunca se fez rogada quando se tratava
de a partilhar com o seu companheiro de solidão, numa prateleira da estante.
Foi assim
que o livro ficou a saber que muitos escritores trabalham longamente os seus
textos à mão, antes de lhes darem a forma definitiva num teclado de máquina de
escrever ou de computador. Desse modo, conseguem escolher as palavras certas,
sejam elas verbos ou adjetivos, tornando-se só aparente a sensação de
facilidade que às vezes nos transmitem quando lemos os seus textos.
Foi também a
máquina que lhe contou que livros tornados célebres como obras para serem lidas
por crianças começaram por ser escritos para adultos. E deu como exemplos As
Viagens de Gulliver, de Jonathan Swift, A Ilha do Tesouro, de
Stevenson, ou mesmo D. Quixote de La Mancha, de Miguel de Cervantes. O
livro, embora sendo livro, desconhecia estes factos, pois não era por aí além a
sua cultura literária.
Deste modo,
foi-se fortalecendo a relação de amizade que os unia, e o livro sentiu mesmo
uma grande vontade de tornar-se leitor e de ler alguns clássicos que viviam
adormecidos noutras prateleiras da estante. Acrescente-se que não foi fácil
satisfazer esse desejo, pois raramente um livro se torna leitor de outros
livros, até por ser complicada essa transformação física.
Conhecedora
desse desejo, a máquina confiou ao livro este desabafo:
— Era
bom que os escritores tivessem um desejo semelhante ao que tu agora
sentes, meu amigo.
— Referes-te
a quê, concretamente? — quis saber o livro.
— Quero eu
dizer que se os escritores lessem mais os livros de outros escritores, modernos
ou antigos, pela certa escreveriam cada vez melhor e não perderiam tempo com
pequenas invejas e a dizer mal de pessoas do mesmo ofício, o que, infelizmente,
ainda acontece bastante.
— E achas
mesmo que isso acontece? — perguntou o livro.
— Se eu um
dia te contasse tudo aquilo que aprendi enquanto fui máquina de escrever de
escritor e de jornalista, podes crer que passaríamos muitas noites inteirinhas
a conversar — respondeu a máquina, levando o amigo a fazer-lhe uma sugestão:
— Pois fica
sabendo que eu acho que devias escrever um livro de memórias, já que as
memórias podem ser livros capazes de atrair muito leitores, mesmo que não digam
toda a verdade que têm para dizer.
A máquina de
escrever ouviu com agrado a sugestão, mas, ciente da dificuldade que tinha em
pô-la em prática, comentou:
— Olha que
não foi nada em que eu não tivesse pensado, mas tenho um problema.
— …que é?
— Quem
poderá escrever essas memórias. Sim, porque uma máquina de escrever só consegue
passar ao papel aquilo que os outros escrevem nela. Por mais que queira e que
tente, uma máquina de escrever, mesmo que seja de muita qualidade, nunca se
transforma em escritora.
O livro
refletiu sobre as palavras da amiga e acabou por lhe dar razão. Ele, no fundo,
também sabia que um livro, por mais ideias que tenha, nunca consegue
escrever-se a si próprio, necessitando da imaginação e do trabalho criador de
quem passa ao papel aquilo que depois se transforma em livro.
Se não
fossem a proximidade e a amizade que entretanto nasceram, o livro dificilmente
teria suportado o abandono a que o votaram, numa casa em que começou por ser
tão lido e estimado e depois esquecido e abandonado, na prateleira poeirenta
das coisas votadas ao esquecimento.
Mas houve um
dia em que o mundo quase desabou à sua volta. Imóvel no seu lugar na estante, o
livro viu o irmão mais velho de Mariana aproximar-se da máquina de escrever, na
companhia de um amigo, e tomar-lhe o peso, observar o seu estado geral e
sacudir a poeira nela acumulada. O que podiam significar aqueles gestos? De onde
surgira um tão súbito interesse por uma máquina já esquecida e tornada inútil?
— Talvez
queiram que tu voltes a ter utilidade e a ser usada por alguém que goste de
escrever num teclado como o teu — admitiu o livro, com um sorriso otimista na
capa já um pouco desbotada.
A máquina,
porém, permaneceu em silêncio, não disfarçando a tristeza que as suspeitas que
tinha nela despertavam.
— Pois fica
sabendo — disse a máquina — que eu acho que não vai ser nada bom aquilo
que está para me acontecer.
— Quais são os
teus receios? — perguntou o livro, preocupado com as apreensões da amiga.
— Se queres
que eu te diga a verdade, então digo-te que aquilo que me vai acontecer é ser
vendida a algum negociante de antiguidades, porque objetos como eu começaram a
ser bastante procurados por colecionadores, por terem deixado de pertencer ao
presente e fazerem apenas parte da memória do passado.
O livro
recusou-se a acreditar no que estava a ouvir, tanto mais que não queria aceitar
a possibilidade de ficar privado da companhia da máquina de escrever. No
entanto, os piores receios acabaram mesmo por se confirmar. A pessoa que
acompanhava o irmão de Mariana não era um amigo mas sim um antiquário que tinha
respondido a um anúncio de jornal onde se lia: “Vende-se por bom preço máquina
de escrever antiga e rara que pertenceu a um escritor famoso.”
A máquina de
escrever tinha os dias contados. O interesse do antiquário era evidente e
faltava apenas acertar o preço. O irmão de Mariana não tinha intenção de manter
em casa aquele objeto já sem utilidade prática e tratou de encontrar para ele
um novo horizonte, ou seja, o de ir parar à montra de uma loja de antiguidades,
para depois terminar os seus dias nas mãos de um colecionador ou na vitrina de
um museu de província.
A máquina,
já resignada com o seu novo destino, disse ao livro que não
aceitava despedidas, pois tinha o coração fraco e a
lágrima fácil… sim, porque mesmo uma velha máquina de escrever é capaz de
chorar quando a tristeza a assalta.
O livro
passou algumas noites sem pregar olho e, no dia da despedida, viu na
prateleira, perto do lugar que ali ocupava, duas teclas maiúsculas da máquina
de escrever, um A e um S. Andou a pensar nas palavras a que aquelas letras
correspondiam e, depois de muito puxar pela cabeça, acabou por descobrir: o A
era de Adeus e o S de Saudade.
Depois da
partida da máquina de escrever, a solidão e o esquecimento começaram de novo a
deixá-lo nervoso e irrequieto, tendo mesmo caído da prateleira duas vezes, sem
que ninguém tivesse percebido lá muito bem como isso fora possível. A tia
Rosário, que tinha o sono muito leve e acreditava em fantasmas, saltou da cama
ao ouvir o estrondo da queda e veio para o corredor a gritar:
— É de
certeza a alma penada do sr. Esteves do andar de cima que anda a rondar-nos os
quartos!
Ninguém deu
importância às suas palavras e aos seus medos, até porque se sabia que o sr.
Esteves fora um namorado que ela tivera na juventude e que depois casara com a
filha do dono da mercearia, nada fazendo crer que agora quisesse voltar para
assombrar a casa dos vizinhos.
Noutra
ocasião em que o livro se estatelou no chão, ruidosamente, para chamar a
atenção das pessoas da casa, houve quem pensasse que tinha havido um pequeno
tremor de terra, pois de outro modo não se podia explicar que um livro
caísse sem mais nem quê de uma prateleira sólida e antiga.
Na verdade,
tudo isto acontecia porque ele queria que não se esquecessem dele e do muito
que tinha ainda para contar.
Uma noite, o
computador ouviu fungar e deu-se conta de que o livro estava a chorar.
— Por que te
deu agora para chorar? — perguntou o computador.
— Porque me
sinto muito só e triste e porque não consigo dormir — respondeu o livro,
tentando disfarçar as lágrimas que lhe escorriam pela capa colorida.
— Se fores
paciente — disse-lhe o computador — pode ser que aconteça alguma coisa que te
faça ser outra vez desejado e procurado pelas pessoas da casa. Não percas a
esperança, porque isso pode acontecer a qualquer momento.
O livro
percebeu que o computador estava apenas a tentar ser amável, procurando tornar
suportável a tristeza que aumentava de dia para dia, de noite para noite. Por
isso, não lhe confessou a inveja que sentia dele e da sua imensa popularidade,
sempre com alguém à frente a escrever ou a navegar na internet. Era isso que
ele desejava que lhe acontecesse, mas não havia meio de ser bafejado por essa
sorte. Também se sentiu tentado a falar-lhe das saudades que sentia da velha
máquina de escrever, mas não o fez, temendo ser deselegante. Era certo que
essas saudades não lhe davam sossego, mas esse era um problema apenas seu, uma
coisa íntima e secreta que não devia partilhar, nem mesmo com um jovem
computador que tanto se esforçava por ser amável com ele naquelas horas
difíceis de esquecimento e abandono.
Um dia, um
grande silêncio invadiu a casa, como se tivessem todos partido para férias. Mas
não, a verdade é que ninguém partira. Estavam todos em casa, mas calados de
tristeza, pois morrera no Brasil o tio Vicente, que lá tinha os seus negócios e
lá refizera a sua vida. Todos gostavam muito desse tio, porque ele era
divertido, porque sabia dezenas de histórias assombrosas, algumas delas por ele
próprio vividas, e porque nunca se esquecia de mandar presentes nos dias de
aniversário das pessoas da casa.
Como morreu
de repente, ninguém teve tempo para se preparar para o seu desaparecimento. Por
isso, a notícia caiu como um aguaceiro gelado sobre todos aqueles que gostavam
dele e que ficaram sem saber o que haviam de dizer uns aos outros, como é
costume acontecer em ocasiões como esta.
O livro
apercebeu-se do grande pesar que havia na casa, mas nada podia fazer para o
contrariar, muito menos voltar a cair da prateleira, o que, pela certa, ainda
iria aumentar a confusão reinante.
Foi nessa
ocasião que o livro se lembrou de ter entrado na casa pela mão do tio Vicente.
Fora ele quem o comprara, o lera e depois dera às irmãs e aos sobrinhos para o
lerem também. Esses foram os tempos mais felizes da vida do livro, que se
recordava perfeitamente do toque suave das mãos que o folheavam, das
exclamações e suspiros que sublinhavam algumas das suas passagens e do perfume
das roupas de alguns dos seus leitores. Agora que o tio
Vicente partira de vez, o livro lembrava-se de tudo isso com
grande exatidão. Era como se tivesse passado alegremente de mão em mão apenas
uns dias antes.
E
recordou-se também de ter um dia regressado às mãos do tio Vicente, que o
voltou a ler e chegou mesmo a metê-lo numa mala, acabando por deixá-lo para
trás por causa do excesso de bagagem. Acreditava, se calhar, que iria encontrar
outro igual numa livraria brasileira, ou que um dia voltaria, com tempo e
paciência, para o ler de novo. Porém, nada disso aconteceu e, agora que a sua
perda era sentida por todos, essa memória tornava-se subitamente nítida e
forte.
Uma noite,
chegou um telefonema do Brasil, dizendo que o tio deixara coisas valiosas para
a família num pequeno cofre guardado no sótão da casa. Mas havia um problema: o
segredo que permitia abri-lo estava bem guardado dentro de um livro de que o
tio Vicente gostava muito, mas que não se sabia ao certo qual era.
Sem segredo
não havia cofre aberto, e sem cofre aberto não havia acesso à herança do tio.
Assim começou a busca, livro a livro, sala a sala, prateleira a prateleira. Mas
ninguém se lembrava de procurar um pouco acima da prateleira dos dicionários.
Puxando pela memória, o livro recordou-se de um pequeno papel manuscrito que o
tio Vicente guardara nas últimas páginas, como se quisesse assinalar com ele
algum capítulo ou uma frase inesquecível. Só podia ser esse o papel que toda a
família agora procurava sem descanso. Mas como havia ele de dizer que era agora
o guardião do segredo? Um livro pode ter muitas capacidades e poderes, exceto o
de começar a falar como um papagaio ou um rádio ligado na hora certa do
noticiário.
Foi então
que se lembrou de voltar a cair da prateleira, como se a terra tivesse tremido
subitamente. Estatelado no chão, abriu as páginas e deixou que se soltasse uma
pequena folha de papel quadriculado que tinha algumas letras e números inscritos.
Ainda
passaram quase duas horas até que alguém tropeçasse nele e pusesse os olhos no
papelinho mágico. Mas, quando tal aconteceu, foi como se um sol de Agosto
tivesse iluminado a casa inteira. Bastou alguém exclamar:
— Encontrei
o livro e o segredo do cofre!
É difícil
descrever a alegria e o nervosismo que inundaram a casa quando se descobriu
que, dentro do cofre, havia moedas e selos muito valiosos, e ainda jóias de
ouro e pedras preciosas que tinham pertencido à avó do tio Vicente e que ele, a
seu pedido, nunca quisera vender nem guardar num banco, por fazerem parte do
coração da casa e da sua riqueza mais secreta. Chegaria o dia em que a
descoberta seria feita, e esse dia estava agora a ser vivido por todos
triunfalmente, sobretudo porque as finanças da família já tinham vivido muito
melhores dias.
Só ao fim de
uma semana, passadas já as horas de euforia, alguém se lembrou de comentar:
— Se não
fosse a queda do livro da prateleira, ninguém teria descoberto o segredo do
cofre. Portanto, só temos de estar agradecidos ao livro que veio resolver
tantos problemas.
Foi então
que várias pessoas da família, passando-o de mão em mão, se recordaram de
o ter lido e dos momentos de satisfação que ele lhes havia proporcionado com a
leitura.
Houve mesmo
alguém que lhe afagou ternamente a capa, como se acariciasse um animal de
companhia. E o livro, apelando às suas forças mais profundas e secretas,
murmurou numa vozinha quase inaudível:
— A única
coisa que eu quero é ser lido. Se me lerem, dar-me-ão toda a felicidade do
mundo.
E se
houvesse na casa uma tabela dos mais procurados, como há nas livrarias, o livro
teria ficado várias semanas seguidas no primeiro lugar, sem rival à vista. E
bem merecia esse momento de reconhecimento e consagração.
José Jorge
Letria.. O livro que só queria ser lido.
Lisboa, Texto Editores, 2006.
1- Qual é a autoria
do texto? Em qual livro está publicado?
________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________
2 - Qual o
tema principal deste texto?
__________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________
3 - Que outro título
você daria, considerando a relação com o texto?
_________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________
4 – Qual era o sonho do personagem principal?
_________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________
5 – O livro teve o sonho realizado?
______________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________
6 - Qual a importância do livro na vida das
pessoas?
______________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________
7 - Você
tem desejo de ler outro livro deste autor?
________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________
8 – Para quem você recomendaria a leitura desse
livro?
____________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________
9 – Você gosta de ler? Justifique.
______________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________
10 - Que livro
você gostaria de ler agora? Por quê? Qual autor?
_____________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________
11 - Quais os assuntos que
você mais gosta de ler?
_____________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________
12 – Escreva sobre “O livro que
só queria ser lido”, de forma que desperte em outras pessoas o
desejo de lê-lo.
______________________________________
_________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________
Sondagem
1 - Responda quanto a sua frequência de leitura
dos seguintes documentos:
Revistas
( ) diariamente ( ) semanalmente ( )
mensalmente
( )
anualmente ( ) nunca ou raramente
Jornais
( ) diariamente ( )
semanalmente ( )
mensalmente
( )
anualmente ( ) nunca ou raramente
Livros
didáticos
( ) diariamente ( )
semanalmente ( ) mensalmente
( )
anualmente ( )
nunca ou raramente
Livros
em geral
( ) diariamente ( )
semanalmente ( ) mensalmente
( )
anualmente ( ) nunca ou raramente
2 - Quais os assuntos que você
mais gosta de ler?
_____________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________
3 - Qual o tipo de suporte que
você utiliza com mais frequência?
( )
impresso (
) digital
4 - Justifique porquê você escolheu a opção acima.
_____________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________
5 - Você considera que o seu
tempo dedicado à leitura é:
( )
suficiente ( )
insuficiente
6 - Quais são as maiores
barreiras para sua frequência na leitura?
( )
tempo ( ) condições financeiras
( ) dificuldade de acesso à biblioteca ( ) lentidão na leitura
( )
outro: ___________
7 - Você gosta de ler?
( ) sim ( ) não
8 - Livros em casa:
(a) tem _____
(b) não tem _____
(c) número
aproximado de volumes ____________
9 - Revistas em casa:
(a) tem ____
(b) não tem ____
(c) número
aproximado de títulos __________
10 - Jornais em casa:
(a) tem _____
(b) não tem ____
(c) É assinante de
jornal? ____ Sim ____ Não
11 - internet em
casa:
(a) tem____ (b) não tem____
12 - Você gosta de
ler?
Sim___ , Não ____, Às
vezes____
13 - Você entende o que lê?
Sim ____, Não
____, Às vezes____
14 - Ao ler um livro, uma revista ou um texto, você
costuma:
( ) ficar no inicio
( ) parar na metade
( ) ir até o final
( ) só olhar a capa e as figuras
15 - Que livro você
mais gostou de ter lido até hoje? Por quê?
______________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________
16 - Que revista
você mais gosta de ler?
_______________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________
17- Escreva três
assuntos ou temas sobre os quais você mais prefere ler:
_____________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________
18 - Se você
escrevesse um livro, que tema escolheria?
______________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________
19 - Você procura um
livro para ler:
( ) por iniciativa própria
( ) por indicação do professor
( ) por indicação de um amigo
( ) pelo titulo ou nome do livro
( ) pela capa e figuras
( ) quando ganha de presente
( ) quando o vê na biblioteca
( ) outro jeito: _________________________________________
Observação: Pode ser
mais de uma alternativa na questão 19.
20 - Nas suas horas de folga o que você mais faz é:
( ) brincar (
) assistir TV ( ) ler (
) trabalhar
( ) praticar esporte (
) descansar ( ) outra coisa: _________________________
21 - Você considera que o seu tempo dedicado a
leitura é:
( ) suficiente (
) insuficiente
22 - O que mais
dificulta seu hábito de ler?
(a) tempo (b) lentidão na leitura
(c) dificuldade de
uso da biblioteca (d) outros: _____________
23 - Você acha que
ler é importante? Por quê?
______________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________
24 - Qual é a importância da
literatura em sua vida pessoal?
_______________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________
25 - Quais são sues autores preferidos?
____________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________
26 – Que conselho você daria
para quem não gosta de ker?
_________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________
Nenhum comentário:
Postar um comentário